segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O trânsito que nos transforma - Parte II


Há algum tempo atrás, uns 20 anos eu creio, colar um adesivo cristão no vidro do carro era uma atitude de coragem, e de assumir publicamente quem era o seu Senhor. Tanto que me lembro, na empresa em que eu trabalhava, onde a maioria dos funcionários era cristã, um dos meus superiores teve um problema sério com as consequências de um pecado cometido e rompeu a comunhão com a igreja. Mas continuou na empresa. O adesivo que havia no vidro traseiro do seu carro "Jesus é paz", ele mandou tirar. Se tirou, porque não tinha mais a paz que só Jesus pode dar, ou se tirou porque o adesivo não testificava mais com seu padrão de comportamento, isso eu não sei. Mas tirou porque incomodava, não combinava mais consigo.

Muita coisa mudou nestes 20 anos, e hoje quase todo mundo coloca em seu veículo adesivos que remetem a uma espiritualidade que pode ser verdadeira, ou não. Parece que está na moda ser evangélico, ou algo assim... passou a ser popular e até uma questão se status, ostentar algum penduricalho que remeta a Jesus, a Deus ou ao cristianismo em geral. Mesmo que Deus ou a pessoa de Jesus não estejam em seus lugares apropriados de honra, respeito e soberania, em frases como "propriedade exclusiva de Jesus": Ora, se é exclusiva de Jesus, o cabra que tá lá no volante não deveria estar dirigindo o carro, não é? Mas, como tem cada carro caindo aos pedaços usando esse adesivo, melhor não incomodar o Mestre.

E nem só de textos de gosto duvidoso vivem certos carros adesivados. Curiosamente, esses veículos possuem pessoinhas dentro, que parecem não se importar com a mensagem que está estampada nos vidros. Muitas delas dirigem como se a pista (ou, as pistas) à sua frente lhes pertencesse, andando à velocidade que bem escolhem, e não aquela regulamentada pelas leis de trânsito. Se possível, ficam digitando no smartfone, enquanto dirigem na faixa da esquerda naquela avenida bem movimentada. Dobram as esquinas, mudam de faixa e param repentinamente para estacionar sem ligar a seta. Não dão chance ao motorista que aguarda numa via secundária, ao invés disso, viram o rosto fingindo que não o viu. Na rodovia, ultrapassam a toda velocidade pela direita, tirando aquela "fina" do caminhão. E quando surge um engarrafamento, não dão uma de bobo: vão pelo acostamento... afinal, são filhos do rei, e isso lhes confere grandes vantagens!

Parece que a época em que poderíamos esperar mais de alguém que estampa "Nas mãos de Deus" em seu carro, já se foi. Isso não é mais sinal de bom testemunho, infelizmente. Confesso que fico irritado quando vejo algum motorista fazendo "aquela" barbeiragem, e tem lá o peixinho colado no porta-malas. Mas logo me lembro do que disse antes: adesivos assim estão por toda a parte, que nem aquele da "familiazinha". Além do mais, às vezes o sujeito pegou o carro emprestado daquele irmão em Cristo, que é bom motorista. Às vezes, o cara comprou o carro e não deu tempo de tirar o adesivo. Às vezes, ele nem sabe o que significa aquela plaquinha cromada. Semana passada, passou por mim um carro na BR-101, que tinha dois adesivos na traseira: à esquerda, o peixinho, símbolo do cristianismo, usado desde os primórdios da igreja até como símbolo secreto para os irmãos se identificarem durante a perseguição... e à direita, um adesivo em que se lia "Só dou carona pra quem me dá". E então, preciso dizer mais alguma coisa?

Olha lá que adesivo tu vai colar no teu carro... e tudo de bem!



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