quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Música eletrônica


Em meados de 1986, quando eu estava em meu primeiro emprego - estoquista em uma loja de moda masculina - fui apresentado a um artista que mudou meu gosto musical para sempre: o francês Jean Michel Jarre. Uma colega de trabalho (má oiiii!!!) me emprestou o LP "Revolution", e a música que ouvi ali me deixou numa mistura de impressionado/apaixonado pelos teclados e efeitos mirabolantes dessa que, pra mim, seria a música do futuro. Fui curtindo cada vez mais e comprando outros discos nas extintas lojas Mesbla e Shop Audio&Video, em Santo André. Com minha mania de que tudo tem que começar do começo, fui atrás do primeiro lançamento de Jarre, Oxygene, de 1976. Depois fui comprando tudo em ordem cronológica, Equinoxe, Magnetic Fields, Zoolook, e assim por diante. Numa época anterior à internet, onde toda mídia era obrigatoriamente física, o jeito era ir de loja em loja, ou importar. Felizmente, tudo o que eu queria estava à disposição na grande São Paulo, e fui aumentando minha pequena coleção de vinil, da qual nunca me desfiz, exceto por... eu conto no final.

Jean Michel é filho do também consagrado músico e compositor Maurice Jarre, autor das trilhas sonoras de filmes premiados, como Lawrence da Arábia, Dr. Jivago, Sociedade dos Poetas Mortos, Ghost, entre outros. Comecei a virar fã das trilhas sonoras de filmes também, e passei a procurar por esse tipo de música. Quando percebi que o material de Jarre era limitado, procurei por outros músicos que seguiam essa pegada eletrônica, e conheci os alemães do Kraftwerk. Achei o máximo, era um estilo bem diferente de Jarre, com mais uso de vocais, com músicas cantadas do início ao fim, como no caso de "The Model".

Depois de um tempo, conheci Vangelis, autor de músicas um tanto variadas, de estilo totalmente eletrônico, como a trilha de Blade Runner, ou clássico, como a premiada Carruagens de Fogo, do filme homônimo. Em seguida, veio Rick Wakeman, ex-tecladista do Yes. Eu gostei muito de seu trabalho, pois seus discos eram temáticos, faziam parte de um grande espetáculo musical, que contava as histórias do Rei Arthur ou da Jornada ao Centro da Terra. As faixas musicais eram intercaladas com a narração dessas histórias, e isso fazia nossa imaginação voar alto. Embora houvesse a opção de se importar vídeos desses shows e ver a performance de Wakeman no palco - geralmente vestindo túnicas chamativas, recriando o visual de um verdadeiro mago - o barato mesmo era ouvir e imaginar toda a cena na nossa cabeça. Tenho saudades dessa época, em que se valorizava o poder que a música tem de influenciar positivamente o nosso intelecto.

Esse pessoal foi pra mim na época, o que o Daft Punk é hoje. Só que com recursos que custavam muito mais caro, e exigindo muito mais da criatividade, além do próprio talento. Eu poderia citar muito mais artistas da música eletrônica daquela época, mas estes foram os mais expressivos. A maioria deles continua na ativa até hoje, e muitos de seus trabalhos, compostos nos anos 70 e 80, continuam atuais, dá pra ouvir numa boa, sem parecerem datados. Alguns expoentes da música eletrônica se misturam com outros gêneros, alguns tecladistas e até os considerados músicos da nova era. Ouvi Kitaro e adorei! Comprei a série de discos de um trabalho que ele fazia, chamado Silk Road, composto em vários volumes.

Música suave, contemplativa, muito diferente do industrial e pesado que ouvia no começo. O toque oriental de Kitaro era inspirador, e muitas vezes até melhorava minha dor de cabeça! Era só chegar em casa, deitar o bolachão na vitrola - um "três em um", na verdade - e deitar no sofá. A melodia era soberba, e me levava a viajar através das culturas e do tempo. Tudo ia bem, até o dia em que a música considerada "da nova era" começou a ser perseguida pela igreja cristã e considerada uma ameaça, uma intrusão da religião oriental em nossas mentes, em nossos lares. Fui então, contrariado, levar meus discos do Kitaro pra uma banca que vende/troca/compra discos e fitas k7. O que levei pra casa naquele dia, em troca dos Kitaro, nem me lembro mais. Mas o que deixei ali, naquela banquinha da rua Senador Fláquer, foi um material de valor pessoal único e também música de primeira qualidade. Além do quê, sem que eu soubesse na época, foi o gatilho que iniciou muitos questionamentos que eu faria na vida, acerca do que é sagrado e do que é profano.

Tudo de bem e de mais musical possível!


Um beijo pra você, Marcia Mariano, esteja onde estiver, e obrigado por me emprestar seu disco do Jean Michel Jarre!

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